“Professor, você lembra de mim?
Às vezes a gente lembra, às vezes não!
Mas, essa pessoa é um pedacinho da nossa eternidade!”
Mário Sérgio Cortella
Tem professor que só dá aula na sala. Eu não! (E boa parte dos que conheço, também não!) Minha lousa, às vezes, é a calçada dos comércios locais ou até mesmo a fila do supermercado. E minha reunião de pais acontece, sem marcar hora, na fila do bancoe até mesmo nas esperas entre um atendimento e outro no pronto socorro.
No interior é assim: a gente não encontra os alunos, eles é que encontram a gente (e como encontram!).
Outro dia, fui fazer algumas compras em uma padaria e, antes de chegar ao balcão, já ouvi:
— Ô professor! Lembra daquela prova de História? O senhor colocou “certo” numa resposta “errada”!Acho que era sobre “negócio das máquinas e do povo que antes fazia tudo com as mãos”.
E lá fui eu, entre um pão francês e outro, revisar a Revolução Industrial com o Lucas. O padeiro só observava, com aquele sorriso de quem já passou por tudo aquilo na escola, ou talvez por não lembrar de “lé nem cré” do que estávamos falando.
Na feira, é pastel… Quer dizer, pastel, coxinha, risoles e, no meio, um ex-aluno te atendendo.
— Professor, o senhor quer comer aqui ou vai levar? — perguntou ele.
— Desde que não venha como a “Guerra Fria”… Pode mandar!
— Que nada! Vai sair que nem a bomba atômica da 2ª Guerra Mundial!
E não é só ex-aluno, não. Tem os atuais também. Terminando os pacotes no supermercado:
— Professor! Vai ter um ponto se eu ajudar a carregar suas compras?
— Vai sim, mas só se não derrubar a melancia ou amassar as uvas. — falo brincando.
Na porta da loja, no posto de gasolina, até no velório do tio-avô de alguém, sempre aparece um:
— Professor, posso tirar uma dúvida?
Eu penso: “Claro, desde que não seja sobre equação do segundo grau… ou a capital de algum país.” Mas, aí vem aquela de sempre:
— Amanhã vai ter aula?
E assim, já entendi que professor de cidade pequena não tem férias de ser professor. Mesmo fora da escola, a gente continua corrigindo, explicando, escutando, “sendo professor”.
Mas não reclamo, não! É nessas esquinas, feiras e filas que a gente vê que a aula não acaba no toque do sinal. No fundo, ser professor aqui é isso: ensinar e aprender que entre um “bom dia” e um “até mais”, a lousa pode ser trocada pelo horizonte da praça.
E, “se” um dia eu me aposentar, acho que ainda vou andar pelas ruas esperando alguém me parar para perguntar:
— Professor, o senhor lembra daquela aula?
E eu vou responder:
— Lembro sim… e ainda tenho mais coisa pra contar, afinal a aula ainda não acabou…
Tiago Rafael dos Santos Alves
Professor / Historiador / Gestor Ambiental
Mestre pelo PPGG-MP – FCT/UNESP
Doutorando pelo PGAD – FCE/UNESP