Por: Nivaldo Londrina Martins do Nascimento (Mtb 35.079/SP.)
Em agosto de 2008, Mauro Cardin publicou o artigo Quarto escuro. Nele, fazia a dissertação de um assunto que deveria ter sido estudado pelos candidatos que estavam disputando as eleições municipais daquele ano. Como os argumentos usados pelo erudito continuam atuais, vamos refletir um pouco sobre alguns trechos do antológico texto para termos uma ideia do que pode acontecer com muitas pessoas no próximo domingo.
Primeiro trecho: O envergonhado é, pois, um desmascarado. Se o mundo é um baile de máscaras, como diz Machado de Assis, o sujeito sobre quem recai a vergonha é aquele cuja máscara caiu, e para quem já não há mais lugar no baile. Só lhe resta ir para o quarto escuro, abraçar o travesseiro e tentar reunir forças para voltar a se expor ao olhar alheio.
Na Cidade Joia, temos 103 candidatos na disputa pelas nove cadeiras da Câmara Municipal e quatro postulantes ao cargo de prefeito. Deste total, 97 candidatos não irão atingir o objetivo traçado no início da campanha. Portanto, é real a possibilidade de dezenas de marinheiros de primeira viagem irem para o quarto escuro abraçar o travesseiro e tentar buscar forças para voltar a se expor perante o olhar alheio.
Segundo trecho: Como se sabe, o supremo juiz moral é a sociedade ou mais exatamente “o povo”, que para Luigi Anolli se coloca e é sentido como um juiz objetivo e imparcial. Ele é imaginado como uma plateia de pessoas que “de olhos bem abertos, olham para você e o espiam atrás das janelas, que comentam suas ações sem piedade, que as julgam e as criticam asperamente, que trocam entre si avaliações de condenação”.
Se numa eleição o supremo juiz moral é “o povo”, que, de olhos bem abertos, vem olhando e comentando a campanha eleitoral; o candidato ao cargo de vereador que não conseguir ao menos 100 votos (num universo de mais de 20 mil eleitores), precisa fazer uma avaliação do seu comportamento perante a sociedade com urgência. E olhar para o espelho do quarto escuro antes de se meter em outra disputa eleitoral.
Último trecho: O oposto da vergonha parece ser o orgulho. Enquanto o orgulhoso se exibe, o envergonhado se esconde; um ama os refletores; o outro, o quarto escuro que, tão logo se dá o vexame, convida: “Vem aqui, vem morrer um pouquinho…” E o sofredor vai se derreter nas sombras, como se aqueles de quem ele foge não fossem feitos da mesma fraqueza e jamais passariam pelo mesmo apuro.
Mesmo sabendo que o oposto da vergonha é o orgulho (e vice-versa), existem muitos candidatos que são orgulhosos e amam os holofotes, principalmente nas redes sociais, onde por uma ou outra curtida se colocam acima do bem e do mal; a estes candidatos o risco é muito maior. Se o desempenho deles nas urnas for aquém do que se espera, o orgulho será trocado pela vergonha e por uma merecida temporada no quarto escuro.
Enfim, aguardemos o domingo. Ele promete ser de alegria para poucos e de tristeza para muitos. Se bem que entre os muitos, existe uma minoria em que o quarto escuro ainda é pouco. Detalhe. Dependendo do resultado da eleição, na próxima semana publicaremos um artigo com o título O dia seguinte… Obs: o texto Quarto escuro pode ser visto na integra no livro Ensaios sobre a política adamantinense.