Por: Nivaldo Londrina Martins do Nascimento (Mtb 35.079/SP.)
Nas eleições de 2002, fui escolhido para ser o relator do Plano de Governo do PT/SP para a Nova Alta Paulista. Na nossa equipe de trabalho, haviam pessoas da maioria das cidades da região. Juntos, elaboramos propostas, aprovadas em todas as instâncias do partido, que poderiam alavancar a economia regional. Entre as quais, a construção de um Hospital Regional, a implantação de um Porto Seco em Adamantina e a pavimentação asfáltica dos pequenos trechos que faltavam para ligar as cidades de Flórida Paulista, Mariápolis e Pracinha ao município de Presidente Prudente. Perdemos a eleição, e o tempo passou.
Mais de duas décadas depois, com exceção das pavimentações asfálticas ligando as cidades citadas à Presidente Prudente, inauguradas no final de 2023, nada aconteceu. Mesmo assim, posso dizer que, além das questões socioambientais, um dia me dediquei, de forma voluntária, pela coletividade na Nova Alta Paulista. Detalhe. Nessa época, me ofereceram assessorias parlamentares remuneradas e nunca as aceitei. Eu sabia que elas iriam tirar a minha liberdade de dizer o que penso sobre determinados assuntos e optei por continuar sendo o que sempre fui na vida. Um contestador nato ou como uma vez me disse a Promotora de Justiça Dra. Elika Kano, um Dom Quixote moderno.
Pois bem, nessa minha luta com moinhos de vento, também modernos, tive embates memoráveis. Um desses embates se deu porque publiquei o texto Uma oportunidade desperdiçada, no Jornal Diário do Oeste, em 27 de março de 2003 (início do primeiro governo Lula), e quase custou a minha cabeça no PT. Recordemos.
“Se já é difícil ouvir as críticas sobre as cabeçadas do governo federal, que se estendem por todos os lados, imagine o incomodo de participar de uma plenária petista conduzida de forma amadora, como a que ocorreu no dia 22 em Junqueirópolis.
Estamos nos referindo ao XXI Encontro da Macrorregião do PT na Nova Alta Paulista, que contou com vários membros do diretório estadual, um deputado federal, alguns vereadores e mais de 100 militantes de cidades circunvizinhas, quando, infelizmente, perdemos uma ótima oportunidade de discutir nossa região. Tudo porque os companheiros que coordenaram os trabalhos, ingenuamente, permitiram que candidatos derrotados nas últimas eleições falassem de suas campanhas por quase duas horas, como se tal assunto interessasse às pessoas que ali estavam, ou se tais queixas atingissem os objetivos da reunião. Aliás, esse tipo de comportamento só serviu para evidenciar falta de respeito aos presentes e, paradoxalmente, deixar claro o real motivo do insucesso desses companheiros.
Essa inocência impediu que problemas de interesse coletivo fossem discutidos, a começar pela inércia da coordenação da macrorregião petista, que parece não saber que o governo federal é petista, e aparenta estar alheia aos problemas de nossa região.
Com isso, importantes temas não foram discutidos. Não se falou de se mobilizar a população para impedir a construção de presídios em Flórida e Tupi Paulista, nem de como esclarecer a opinião pública do risco que corremos com os resíduos industriais que a Ajinomoto pretende despejar no Rio Aguapeí. Não se falou, muito menos, de como iniciar um movimento contra o foro privilegiado para políticos corruptos, cuja instituição, diga-se de passagem, contou com a ajuda da bancada federal do PT. Tudo isso, no mínimo, criou uma dúvida: será que o PT, ao assumir o governo, deixou de ser o partido de mobilização das massas?
Outras questões, que podem ser consideradas menores para partidos de direita, mas de enorme importância para nós, petistas, também não foram debatidas, como por exemplo, a da avaliação do desempenho de nossos vereadores, já que há problemas com alguns deles na região. Por exemplo, em Lucélia, cidade do coordenador da macrorregião, onde o vereador petista foi acusado de práticas condenáveis e, como se não bastasse, de defender a implantação da taxa de iluminação pública. Em Mariápolis, nosso representante na Câmara, contrariando decisão do diretório local, votou contra os trabalhadores, ajudando a prefeitura a revogar a Lei que garantia 14° salário aos servidores.
Não faria sentido explicitarmos tal desperdício, se não fosse para capitalizarmos o aprendizado que a reunião trouxe, não pelo que foi discutido, mas pelo que deixou de ser debatido. Temos certeza de que, num próximo encontro, saberemos aproveitar melhor o tempo, a oportunidade em si, não para mostrar nossas emocionalidades, mas para resolver problemas, buscar soluções, criar alternativas, projetar movimentos, fortalecer o partido e suas propostas… Isso implica que ambas as partes, coordenadores dos trabalhos e filiados, entendam que não se pode perder um encontro dessa natureza, trabalhoso para se realizar e que envolve certo sacrifício de cada participante, com estendidos e queixosos discursos.”
Obs: Hoje, 21 anos depois da publicação do artigo acima, percebo que os argumentos que usei nas críticas que fiz aos coordenadores do PT na época, estavam corretíssimos, caso contrário a extrema direita não teria crescido tanto na região. Fui, mas volto na semana que vem.