Por: Nivaldo Londrina Martins do Nascimento (Mtb 35.079/SP.)
Dizem que escrevo absurdos nesta coluna, mas as coisas não são bem assim. A verdade é que escrevo sobre os absurdos que são recorrentes na Nova Alta Paulista. E olha que esses absurdos não começaram ontem. Eles começaram com os desbravadores destas paragens e pelo visto não irão terminar tão cedo. Viajemos pela história.
A colonização dessa região teve a participação de imigrantes da Alemanha, Bulgária, Ucrânia, Letônia, Itália, Japão, Suíça e Rússia. Cada um desses povos trouxe nas suas bagagens, além do sonho de um futuro melhor, um pouco da cultura e dos costumes da sua pátria. Na formação do município de Lucélia, por exemplo, tivemos forte presença de alemães, russos e suíços; isso na longínqua década de 1920.
Como a trajetória desses imigrantes é extensa, vamos nos ater aos alemães que fundaram a Colônia Nova Pátria, que também era conhecida por Colônia Alemã e mais tarde recebeu o nome de Colônia Paulista. A mudança do nome se deu por conta da adesão do Brasil, em 1942, à causa dos países aliados na Segunda Guerra Mundial.
Conforme trechos extraídos da monografia acadêmica Lucélia-SP, do Início ao Meio, do geógrafo e professor Jeová Severo da Silva, “a adesão aos aliados, transformou de uma hora para outra a vida dos alemães no Brasil, e eles passaram a ser tratados com a lei do silêncio. Como em Lucélia (e em várias outras cidades brasileiras) os imigrantes se comunicavam por meio de cartas com os parentes na Alemanha, e as cartas que recebiam continham propaganda nazista, muitas casas de alemães foram arrombadas e livros, revistas e documentos trazidos da terra natal, queimados.”
E Jeová continua, “uma simples conversa em língua alemã entre familiares e amigos, ou até mesmo ouvir noticiários em emissoras de rádio internacionais eram motivos para prisões arbitrárias”. Consta em outra pesquisa, realizada com a colaboração do jornalista/historiador Marcos Vazniac, que fatos importantes desta época estão registrados na obra Grandes e Pequenas Pedras de um Mosaico, escrita pela senhora Margarida Kuzli. Infelizmente, não consegui ter acesso ao livro. Mesmo assim, consegui outras informações sobre a Colônia Paulista.
Entre a década de 1920 e o ano de 1942, a comunidade alemã cresceu ao ponto dos seus habitantes terem construído uma igreja e um cemitério para atender as necessidades dos moradores. Importante dizer que o campo-santo se encontra no topo de uma colina, livre de alagamentos e de outros eventos climáticos. No início desta semana visitei o local e pude comprovar isso.
Pena que o cemitério está abandonado e os túmulos se deteriorando em meio a um matagal, o que é muito triste e não deixa de ser um descaso com os pioneiros que lá foram sepultados. Ademais, o lugar deveria receber a devida atenção das autoridades públicas de Lucélia. Construir uma cerca e fazer a devida limpeza no campo-santo não iria quebrar a prefeitura da Cidade Amizade, e sim manter o respeito pelos valorosos desbravadores e pela história do município.
Também gostaria de dizer que ao pesquisar sobre o destino das famílias dos imigrantes alemães após o término da Segunda Guerra Mundial, acabei encontrando na internet o texto Eles estavam tão próximos de nós, publicado em 2011, por Danilo Pelloso. Nele, o autor relata a existência de suásticas nazistas que foram desenhadas, em torno de 1950, em algumas calçadas de Lucélia.
Como no texto de Pelloso existe a localização dos nefastos símbolos nazistas que nos remetem a uma das piores páginas da humanidade, rumei para a Cidade Amizade. Lá, constatei que eles ainda existem. Mais uma questão que deveria ter sido resolvida pelas autoridades daquele município há muito tempo. Apologia ao nazismo é crime.
Por enquanto, é isso caro leitor. E para que não repitam que escrevo absurdos nesta coluna, fica aqui os endereços do cemitério da Colônia Paulista e das ruas onde estão os símbolos nazistas. O campo-santo está localizado no lado direito da vicinal Pasqual Milton Lentini (sentido Salto Botelho) a uma distância de aproximadamente 4,9 kms da rotatória da Destilaria de Álcool. As suásticas nazistas estão nos cruzamentos da Rua Flávio José Di Stéfano, com as Ruas Dorival Rodrigues de Barros e Rua Eduardo Rapacci.