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“Então é Natal… O que você fez?”
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Na última semana, vivenciamos o acender das luzes de Natal em diversas cidades de nossa região. E claro, há algo de mágico nas luzes de Natal das pequenas cidades! Basta que dezembro chegue para que a rua principal se transforme. As vitrines ganham um brilho diferente, as lojas estendem seu horário até mais tarde, e o movimento noturno do comércio faz tudo mudar.
Quem cresceu no interior sabe bem como era caminhar pelas calçadas iluminadas. E, claro, sempre havia o famoso Papai Noel sentado em frente a alguma loja, distribuindo pirulitos que, para nós, tinham gosto de novidade e encantamento.
Era um daqueles momentos que pareciam suspender o mundo, como se todos estivéssemos conectados pela mesma expectativa: a chegada do“Natal”, das festas, dos presentes e dos parentes que vinham de longe.
Mas o que os olhos de uma criança não percebiam é que nem todo mundo caminhava comos mesmos passos. Enquanto algumas famílias tiravam fotos, escolhiam presentes ou aproveitavam a praça cheia, outras observavam de longe, calculando o preço de cada desejo não atendido, com o famoso: “Na volta a gente compra!” O brilho das luzes refletia de maneira desigual, iluminando com generosidade uns rostos e deixando outros quase à sombra.
Hoje, olhando para trás, entendo que o Natal do comércio aberto, da música nas ruas e dos pirulitos distribuídos generosamente também carregava um silêncio: O das famílias que não conseguiam participar totalmente daquela festa. Para muitas crianças, o Papai Noel não era alguém com quem se tirava fotos. Era apenas uma figura distante, sentado em frente a um mundo que não parecia pertencer a elas.
E, ano após ano, essa distância vai se repetindo, naturalizada dentro de uma celebração que insiste em romantizar igualdade onde nunca houve.
Ainda assim, há beleza na memória! Ela não se apaga! Mas talvez o verdadeiro espírito do Natal esteja justamente em perceber quem ainda não foi alcançado pelo brilho das luzes. Porque, por mais que o comércio ilumine suas fachadas e que as cidades invistam em enfeites, o Natal só cumpre seu papel quando conseguimos enxergar as pessoas que continuam passando despercebidas na multidão, tal qual aquela criança que nasceu em uma manjedoura.
Se, algum dia, aquela criança que ganhou um pirulito do Papai Noel aprendeu alguma coisa, foi que o encanto do Natal não precisa ser um privilégio. Ele pode, e deveria, ser um direito compartilhado! Afinal, o Natal não é sobre quem pode comemorar, mas sobre quem nunca foi convidado para a celebração!
Tiago Rafael dos Santos Alves
Professor da Rede Estadual de SP / FADAP/FAP – Tupã
Historiador – nº 0000486/SP
Gestor Ambiental: CREA-SP nº 5071624912
Mestre pelo PPGG-MP – FCT/UNESP
Doutorando pelo PGAD – FCE/UNESP
E-mail: tiagorsalves@gmail.com


