O trânsito brasileiro continua sendo um grande desafio. Dados preliminares indicam que, entre janeiro e maio de 2025, o país registrou 7,4 mil mortes em acidentes de trânsito. Somente no Estado de São Paulo, a taxa de mortalidade é de 13,85 mortes por 100 mil habitantes, sem contabilizar as milhares de pessoas que sobrevivem com sequelas.
Em Adamantina, as ocorrências de trânsito também são frequentes. Pensando em prevenção e segurança, o Grupo Massei – que atua com o transporte coletivo de passageiros em Adamantina – promoveu, na última semana de outubro, um treinamento voltado a seus motoristas. A capacitação foi conduzida pelo engenheiro de segurança do trabalho e engenheiro civil Rodrigo Medina, que destacou que, embora as causas dos acidentes sejam diversas, a falta de percepção de risco — caracterizada pela ausência ou reação tardia do condutor — é o principal fator que leva à ocorrência de sinistros.
A percepção de risco é a capacidade de identificar e avaliar situações potencialmente perigosas. No trânsito, envolve reconhecer os limites de velocidade, as condições da via, o comportamento de outros motoristas e o próprio estado físico e mental do condutor.
Estudos mostram que muitos motoristas superestimam suas habilidades e subestimam os riscos, o que gera uma falsa sensação de segurança. Essa confiança excessiva costuma estar ligada a hábitos aparentemente inofensivos, como o uso do celular “por apenas alguns segundos” ou a confiança exagerada em vias já conhecidas.
Segundo o Observatório Nacional de Segurança Viária, cerca de 90% dos acidentes têm como causa principal o comportamento humano, e não falhas mecânicas ou estruturais. Distração, excesso de velocidade e consumo de álcool continuam entre os principais fatores de risco.
Durante o treinamento, o especialista apresentou situações reais de acidentes, analisando as falhas envolvidas e promovendo a participação ativa dos motoristas. O objetivo foi reforçar a importância de identificar, compreender e antecipar situações de perigo, garantindo tempo de reação adequado, tomada de decisão segura, consciência situacional e adaptação às condições adversas.
Percepção de risco e saúde mental
Outro aspecto frequentemente negligenciado é o estado mental do condutor. Estresse, fadiga e ansiedade afetam diretamente a atenção e o tempo de reação. A percepção de risco diminui quando o motorista está emocionalmente sobrecarregado — um fator especialmente relevante para profissionais que passam longas horas ao volante.
Por isso, o treinamento também abordou a Avaliação dos Fatores de Riscos Psicossociais relacionados ao trabalho, buscando promover a integração entre corpo e mente dos colaboradores e adequar a empresa às exigências da nova Norma Regulamentadora NR-1.
A especialista ressaltou a importância da identificação desses fatores, destacando que, por meio da avaliação, é possível implementar medidas de prevenção e controle dos riscos no ambiente de trabalho, já que muitas causas estão relacionadas à forma como as tarefas são concebidas, organizadas e geridas.
Comportamento e cultura no trânsito
O trânsito é também um reflexo da cultura de um país. No Brasil, ainda predomina uma mentalidade em que a pressa e a imprudência são naturalizadas, enquanto a prudência muitas vezes é confundida com lentidão. Essa cultura precisa ser revista — e isso passa por educação, empatia e responsabilidade coletiva.
Motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres compartilham o mesmo espaço e, portanto, a mesma responsabilidade. Programas de educação para o trânsito nas escolas, campanhas permanentes de conscientização e a inclusão de temas sobre percepção de risco nos cursos de formação de condutores são medidas essenciais para transformar essa realidade.
O treinamento foi acompanhado pelo gerente da empresa, Rudinei de Rezende Silva, e realizado em dias alternados, de forma a atender todos os motoristas do Grupo Massei.

