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ARTIGO: Memórias de outrora: o tempo dos sinos

“Dona Eulália dizia que o sino tocava mais forte quando alguém esquecia de olhar pro céu.”

José Bento, poeta sem papel

 

“Zezinho, com oito anos e muita convicção, afirmava que cada badalada do sino era um anjo batendo palmas lá em cima.”
Dona Teresinha, guardiã de memórias não escritas

 

Na última semana em uma visita à cidade de São Paulo, como um bom “turista”, acabei percorrendo alguns dos cenários históricos e arquitetônicos da capital, dentre eles a Catedral da Sé. Entre um roteiro e outro, optamos pelo tour completo da catedral. E claro, com direito a visitar as torres e os sinos daquele espaço.

Para minha surpresa quando nos aproximamos dos sinos (que não são poucos) eram quase quatro horas da tarde, e consequentemente em poucos instantes vieram as badaladas (ensurdecedoras, diga-se de passagem – ainda bem que foram só quatro). Mas, tá valendo!

E por um instante me sobreveio a lembrança dos sinos da Igreja Matriz de Santo Antônio, em Adamantina. Aquele som que vem do alto, meio rouco, meio solene, sempre carregado de alguma notícia. Às vezes, a gente nem prestava atenção, mas ele estava lá, firme, atravessando a manhã ou cortando o silêncio da tarde.

Quando eu era criança, confesso que eu acreditava que o toque dos sinos era alguém apertando a “campainha do céu”, ou quando “algum santo” chegava à igreja, ou até mesmo o “canto do galo” que ficava no topo da torre.

Com o passar do tempo, percebi que o sino tocava para avisar que a missa ia começar. Tocava para chamar para o terço, para lembrar da novena, para avisar do batizado. E, para os mais distraídos, era também um lembrete das horas.

Hoje, com tanta modernidade, notificação no celular e relógio falando com a gente, parece que o sino perdeu a função. Mas, mesmo assim, ele continua lá, insistente. Um lembrete de que existe um outro tempo correndo por fora, um tempo que não é de pressa, nem de produtividade, mas de presença (ou de presente).

Se o texto assim me permite, posso dizer que o sino da igreja é como o coração das cidades tocando lá no alto. Ele une o que está perto e o que já se foi. É memória viva, som que atravessa gerações. Talvez seja disso que o mundo esteja precisando: menos “alarmes” e mais “sinos”. Menos pressa, mais pausa. Menos barulho… e mais sentido.

 

Tiago Rafael dos Santos Alves

Professor / Historiador / Gestor Ambiental

Mestre em Ciências – PPGG-MP – FCT/UNESP

Doutorando pelo PGAD – FCE/UNESP

 

 

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